segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Entre Batalhas e Esperança

Há um tipo de amor que não se traduz em palavras. É o amor dos pais com o coração sufocado pela preocupação, que seguram as mãos frágeis enquanto aguardam o próximo exame, que se perdem em pensamentos durante a madrugada, tentando encontrar uma resposta que lhes dê esperança.

Esses pais conhecem profundamente o cheiro estéril dos hospitais e as paredes frias das salas de espera. Eles sabem que a vida não se resume a vitórias ou derrotas, mas sim a uma série de batalhas diárias, travadas em silêncio, longe dos olhos do mundo. São os pais de filhos doentes, que carregam aos ombros um peso invisível, mas nunca deixam de oferecer o seu melhor sorriso.

Para esses pais, o futuro é uma constante incerteza. Cada tosse, cada febre, cada momento de exaustão é um lembrete cruel de que a batalha nunca termina. Quando outros falam sobre as pequenas alegrias do dia a dia, eles perguntam-se, se um dia os seus filhos terão a possibilidade de experimentá-las plenamente.

O diagnóstico de uma deficiência profunda, de uma doença oncológica, crónica ou mental não é apenas uma notícia devastadora, mas um ponto de viragem. A partir daquele momento, a vida nunca mais será a mesma. Os dias passam a ser medidos por consultas, tratamentos, altos e baixos. E, ao mesmo tempo, esses pais descobrem uma força que nunca imaginaram possuir. Eles tornam-se especialistas no que os seus filhos precisam, lutadores incansáveis, defensores ferozes do bem-estar das suas crianças.

Mas com essa força, vem também um cansaço profundo. Um cansaço que não é apenas físico, mas emocional. Eles perguntam-se: “Estou a fazer o suficiente? Porquê o meu filho? Como explicar ao mundo a dor que ele sente e que eu partilho?”

E, no entanto, a cada sorriso que conseguem arrancar dos seus filhos, a cada pequeno progresso, sentem-se recompensados de uma forma que poucos podem compreender. Porque esses momentos são raros, preciosos, e por eles, estes pais dariam tudo. Eles aprendem a celebrar as vitórias mais simples, porque sabem que, no contexto de uma doença, nada é pequeno demais para ser celebrado.

A sociedade muitas vezes não compreende a profundidade desta dor. Não sabe o que é viver com a constante sombra do medo, nem como é amar alguém com tanta intensidade que até respirar se torna secundário. E é por isso que devemos, como comunidade, estender as nossas mãos, os nossos corações, a nossa compreensão.

Cada um desses pais é um herói silencioso, que luta por um amanhã melhor, mesmo quando o hoje parece insuportável. Eles carregam consigo uma lição de vida inestimável: o amor, mesmo na adversidade, é o que os mantém de pé. É o que os faz continuar a lutar, mesmo quando o mundo parece desmoronar.

Estes pais não lutam apenas por dias melhores, mas pela certeza de que, independentemente do que o futuro traga, eles fizeram tudo o que podiam. E essa é a sua maior conquista: a imensurável força de não desistir, de continuar, de acreditar que, mesmo nas noites mais escuras, o amanhecer trará novas possibilidades.


Este texto é uma homenagem a todos esses pais. A todos os que se cruzaram comigo no âmbito da minha prática clínica. Que eles encontrem força onde não há, esperança nas pequenas coisas, e que nunca se esqueçam de que, no meio da tempestade, há muitos corações que batem com eles, que torcem por eles, que acreditam que, por mais difícil que seja a caminhada, o amor encontrará sempre uma forma de se transformar em esperança. 

E melhores dias virão, um dia…