Recentemente, a Alexandra, mãe de quatro filhos, meus pacientes, pediu-me para responder a algumas questões para serem publicadas no seu BLOG NHEKO, com o objectivo de esclarecer alguns factos sobre a abordagem homeopática e partilhar a sua experiência ao longo dos anos com os seus filhos.
O resultado é interessante e ajuda a dar uma perspectiva real do mundo da Homeopatia.
1. Na Homeopatia existem diferentes correntes, quais as principais diferenças entre elas e qual a que segue?
R: Eu trabalho exclusivamente com Homeopatia clássica unicista, que pressupõe dar um só medicamento de cada vez, com o objectivo de tratar a pessoa como um todo e ao mesmo tempo evitar a junção de varias substâncias, de forma a termos com exatidão a percepção da acção de cada substância no organismo do paciente.
Muitos colegas usam outros métodos para medicar os pacientes, usando varias substâncias ao mesmo tempo com o objectivo de tratar os sintomas. Podemos dizer que é semelhante ao método da medicina convencional, mas utilizando medicamentos homeopáticos.
A melhor Homeopatia é a que resulta, mas com os anos de prática clínica, pude comprovar que a unicista, tal como o criador da Homeopatia, Dr. Samuel Hahnemann, concebeu, é indiscutivelmente, a mais eficaz.
2. A grande experiência que tem no acompanhamento de crianças foi uma opção sua ou uma consequência natural do seu percurso?
R: Desde o meu inicio de carreira que sempre tive muita facilidade em lidar com bebés e crianças e a identificar os seus verdadeiros sinais patológicos.
Como comecei a ter bastante sucesso clínico com as patologias infantis, a minha vertente pediátrica começou a superar claramente a observação de adultos.
Depois de perceber esta tendência na minha prática clínica, decidi investir na minha formação em Homeopatia pediátrica e é o que tenho feito até hoje. Neste momento, o acompanhamento pediátrico equivale a cerca de 80% da minha clínica.
3. "Na homeopatia não existem doenças, somente existem doentes", concorda com esta afirmação? O que é que isto quer dizer na prática?
R: Concordo plenamente. Esta é a filosofia intrínseca à Homeopatia clássica unicista.
A diferença está em tratar a “asma do Pedro” ou tratar o “Pedro que tem asma”.
Podemos optar por suprimir farmacologicamente os sintomas ou podemos optar por tratar a pessoa como um todo, ou seja, abordando os três níveis de manifestação: Mental, Emocional e físico.
Num dia de consultas, posso ter 3 crianças com asma e quase posso garantir que essas três crianças irão tomar três medicamentos diferentes, tendo em conta a abordagem extremamente individualizada da Homeopatia.
Esta é a razão porque a Homeopatia não pode ser protocolada. Não é possível determinar um medicamento para a asma, ou para a febre, ou para uma otite, porque cada pessoa terá um medicamento de acordo com todo o seu quadro sintomático.
4. A maioria dos pais que o procuram são motivados pela curiosidade e vontade conhecer esta prática ou estão numa situação de desespero porque já experimentaram de tudo sem os resultados pretendidos?
R: Tenho todo o tipo de casos, mas claramente tenho muitos mais pais descontentes com a abordagem convencional.
As crianças estão constantemente doentes, com recurso a excesso de medicação como antibióticos, anti-histamínicos, anti-inflamatórios, broncodilatadores, corticoides, etc. Os pais estão cansados de dar tantos medicamentos e os seus filhos estarem constantemente em recorrências.
Este problemas, para além das consequências imediatas a nível orgânico para as crianças, traz também consequências sociais, porque o absentismo ao trabalho nestas famílias é muito alto e tenho casos de mães que tiveram que deixar de trabalhar para acompanhar os filhos.
A medicina convencional é insubstituível e a Homeopatia também é insubstituível. A única solução que vejo para melhorar a qualidade de vida destas crianças, é fazermos um trabalho de complementaridade.
A junção dos profissionais, traria uma mais valia inquestionável para as crianças, famílias e sociedade em geral.
5. Quais as principais "condições" para que a homeopatia em geral e a sua forma especifica de actual resulte nas crianças? Os pais têm de se tornar seus cúmplices na intervenção?
R: A cumplicidade e a empatia entre mim e os pais com certeza que ajuda.
No entanto, a Homeopatia tem os seus próprios argumentos.
A Farmacologia homeopática é muito extensa e muito rica. Temos resposta para quase todo o tipo de patologias de todas as especialidades médicas.
O medicamento bem prescrito, na potência certa e na posologia correcta são o factor do sucesso clínico.
Claro que a confiança que os pais depositam na Homeopatia e em concreto no meu trabalho, ajuda muito no resultado final.
6. Uma alimentação saudável e equilibrada é fundamental para a saúde, quais os principais problemas que encontra actualmente no regime alimentar da maioria das crianças?
R: A alimentação é uma componente essencial na minha abordagem clínica. Metade do tempo que disponibilizo para cada consulta, é ocupado a falar de alterações alimentares.
Nas crianças, que maioritariamente sofrem de problemas alérgicos/respiratórios, tenho como estratégia melhorar em 5 pontos fundamentais:
- Diminuir alimentos que contribuem para estimular a produção de secreções mucosas.
- Diminuir alimentos que contribuem para aumentar a acidez orgânica.
- Diminuir alimentos que contribuem para o aumento dos processos inflamatórios crónicos.
- Diminuir alimentos processados e deficitários nutricionalmente e direccionar práticas de cozinha que preservem os nutrientes dos alimentos.
- Aumentar a ingestão de alimentos com nutrientes específicos necessários a cada caso.
É importante distinguir entre saciar a fome e nutrir. Acredito que a sociedade actual tem muitos problemas de sub nutrição, não por falta de alimentos, como infelizmente sabemos que acontece em muitos países no mundo, mas por falta de nutrientes.
Comer muito, não é sinónimo de nutrir. Podemos comer em exagero e não estar a nutrir as nossas células e esta prática culmina em doença. É uma questão de tempo.
7. Como homeopata prefere intervir de forma individual e autónoma ou de forma complementar com a pediatria?
R: As duas medicinas complementam-se perfeitamente.
Todas as crianças que sigo em consulta, têm o seu pediatra.
As situações que ultrapassam o âmbito da Homeopatia, eu recomendo a visita ao pediatra.
A abordagem em primeira linha, deve ser a mais suave, não tóxica e por isso faz muito mais sentido começar o tratamento pela Homeopatia, porque na maioria dos casos conseguimos evitar o recurso a químicos agressivos.
Um homeopata experiente tem capacidade para perceber os limites da sua prática, pelo que nunca irá expor qualquer paciente a riscos desnecessários.
8. Actualmente há um uso generalizado, exagerado e quase irresponsável dos antibióticos na primeira infância, concorda com esta opinião? Quais as consequências desta utilização excessiva durante esta fase do crescimento?
R: Eu tenho sempre o cuidado de não generalizar, porque podemos correr o risco de sermos injustos para alguns médicos pediatras que não praticam desta forma.
Efectivamente, o uso excessivo de antibióticos é um problema de saúde pública e todos os estudos nesta área são assustadores quanto ao futuro da humanidade devido a bactérias multi resistentes.
A Homeopatia pode ser a resposta para travar o uso de tantos antibióticos, porque é uma medicina muito interventiva em casos agudos, eficaz e rápida actuar.
Para isso, precisamos trabalhar em complementaridade. É fundamental a introdução de uma cadeira de medicinas complementares nas faculdades de medicina, cadeira essa ministrada com o intuito de mostrar aos futuros médicos que estas práticas têm razão de ser e não como algo que não tem qualquer valor clínico.
Devo dizer que não são só os médicos responsáveis pelo excesso de antibióticos.
Todos os dias, ingerimos na cadeia alimentar muitos antibióticos. Carne, leite e derivados, ovos, etc.
Toda a nossa alimentação terá que ser repensada em breve.
9. A homeopatia é apontada muitas vezes como um recurso ideal para processos preventivos, a experiência com os meus filhos mostra-me que é extremamente eficaz em situações agudas como grandes infecções na garganta, otites e até mesmo pneumonia. O que é que tem de mudar para que a opinião dos pais seja alterada.
R: A Homeopatia é muito mais uma medicina interventiva do que preventiva, uma vez que pressupõe o paciente apresentar sintomas para podermos medicar.
A Homeopatia é extremamente eficaz em casos agudos.
Desde que o medicamento seja correcto, a potência esteja certa e a posologia seja a indicada, os resultados podem ser vistos/sentidos em horas.
A Homeopatia ainda tem que crescer muito. A sua credibilidade estabelece-se com os resultados. Só os resultados clínicos efectivos podem trazer esta prática para o lugar que merece.
10. As alergias e os problemas respiratórios são cada vez mais frequentes nas crianças, na sua opinião quais são as principais razões para este número crescente?
R: A minha experiência diz-me que não podemos apontar uma causa única a este problema. As causas são multi factoriais.
É importante não vermos o alergeno (agente patogénico) como o agressor, mas sim tentarmos perceber a causa do organismo reagir a esse alergeno. O problema não é o alergeno em si mesmo, mas sim a susceptibilidade do organismo a esse alergeno.
A Homeopatia tem ferramentas farmacológicas, que ajudam a diminuir a intensidade e o numero de recorrências alérgicas.
11. Os interesses da industria farmacêutica são muitas vezes apontados como entrave na divulgação dos verdadeiros resultados de muitas das chamadas "medicinas alternativas", quais as medidas que podiam ser tomadas num sentido contrário?
R: A industria farmacêutica não pode ser vista como a responsável de todos os males e de todas as injustiças.
Devemos a esta industria um grande investimento na procura de moléculas eficazes para muitas patologias e isso tem para mim um grande valor.
É claro que esta investigação custa muitos milhões e este custo tem que ser compensado com vendas posteriores.
A forma como essas vendas se fazem é que pode ser discutível. A pressão dos accionistas das grandes multi nacionais para obterem um retorno rápido e elevado leva a práticas pouco honestas e à consequente quebra da credibilidade de toda a industria farmacêutica.
Eu não vejo a industria como entrave ao crescimento das medicinas complementares.
Na Suíça, um país de gigantes multi nacionais farmacêuticas, como são o caso da Roche, Novartis, Nestlé, etc, a Homeopatia foi incluída no sistema de saúde com muito sucesso.
As medicinas complementares estão dependentes de si mesmas para a afirmação junto dos pacientes.
Os argumentos são inequívocos. Quando bem praticadas, não têm entraves, como podemos concluir pela Homeopatia que tem já mais de 200 anos de prática clínica.
12. "A revolução começa em ti" é um caminho para a auto consciência do verdadeiro poder da nossa força individual na evolução do mundo, a homeopatia, aliada a uma alimentação e um estilo de vida saudável são a resposta para construirmos mundo melhor com e para os nossos filhos?
R: Tudo o que fazemos hoje terá um impacto determinado no futuro.
As crianças são "esponjas", absorvem tudo o que lhe passamos e são espelhos dos exemplos dos pais.
Os hábitos de vida saudáveis são exemplo disso. Cabe a todos os pais lutarem por uma alimentação mais saudável nas cantinas escolares, nos hospitais, nos restaurantes. As compras que fazem no Supermercado têm que ter como prioridade a nutrição. Resistir ao Marketing agressivo da poderosa industria alimentar e escolher produtos com critérios rigorosos, ler rótulos, informarem-se.
Devem resistir ao "sabe bem" e incentivar o "faz bem".
Eu tento chegar a todos individualmente nas minhas consultas, mas é individualmente que influenciamos o colectivo.
Tal como os maus hábitos se propagam, o estilo de vida saudável também influencia as pessoas. Todos temos a missão de garantir um melhor futuro para os nossos filhos.
A Homeopatia é uma importante aliada para uma vida mais saudável, para uma maior consciência ambiental e sociológica.
O mundo muda a todos os segundos, porque não mudar para melhor?
13. A forma como trabalha com as famílias é única na entrega e disponibilidade, este trabalho tem para si um carácter de missão?
R: A Homeopatia para mim não é trabalho é a minha vida.
É um privilegio vivermos do que nos dá mais prazer.
A entrega que tenho aos meus pacientes é total. São 365 dias por ano a receber solicitações e pedidos de ajuda.
O que me mantém ao fim de tantos anos com uma média de 80 emails por dia, é colocar-me no lugar dos outros. É colocar-me no lugar dos pais que vêm os seus filhos doentes e precisam de ajuda.
Eu sou Pai e esta condição ajudou a compreender os outros pais. Quando precisamos de ajuda, o médico tem que estar disponível para ajudar. Caso contrário a confiança quebra-se.
Acredito que estou a contribuir para uma geração mais saudável e mentalmente mais aberta para a Homeopatia. Estas crianças, muitas delas possivelmente serão médicos, terão uma perspectiva diferente sobre a Homeopatia do que as gerações anteriores, pelo facto de terem crescido a tomar medicamentos homeopáticos com eficácia.
Talvez seja esta a minha missão…