terça-feira, 10 de junho de 2008

Medicamento Único


Prescrever um medicamento único é uma das leis fundamentais da Homeopatia. O que verifico hoje em dia, é um constante atentado à boa práctica homeopática, ou seja, em vez de se fazer uma avaliação rigorosa do doente e recolher-se a totalidade dos sintomas mentais, emocionais e físicos, o que se faz é reduzir à expressão mais simples o acto médico. Assim, torna-se mais fácil fazer um “cocktail” de medicamentos homeopáticos e dar ao doente com a esperança de que algum desses medicamentos actue realmente. Este é um profundo disparate que contribui somente para aumentar o estado caótico em que se encontra a Homeopatia. Isto não é mais do que fazer Homeopatia com pensamento alopático (medicina química), ou seja, dar os medicamentos para a patologia e não para a pessoa individual, ou, por outras palavras, é fazer medicina convencional com medicamentos homeopáticos. Desculpem-me a frontalidade, mas quem pensa assim é homeopatista e não homeopata, não sente a verdadeira arte de curar, não interiorizou a filosofia e como se não bastasse, não estudou o suficiente os medicamentos para os sentir, de forma a dá-los correctamente.
Como podemos avaliar com precisão um efeito benéfico ou nocivo de um conjunto de medicamentos?
Até hoje, nenhum medicamento da Matéria Médica Homeopática foi experimentado em combinação com outros, a descrição que temos dos medicamentos foi feita apenas sob a influência de uma substância.
Suponhamos que um paciente tomou um complexo composto por seis substâncias homeopáticas e sentiu um agravamento do seu estado. Como podemos saber qual a substância que provocou esse agravamento? Será que o agravamento foi provocado pela interacção entre substâncias? Como podemos saber? Onde está o rigor científico desta práctica?
Por outro lado, suponhamos que o paciente sentiu melhoras, como sabemos qual das substâncias teve esse poder? Se as melhoras foram curtas, teremos que aumentar a potência do medicamento, em qual das substâncias o deveremos fazer?
O professor George Vithoulkas, talvez a grande figura mundial em Homeopatia e uma das minhas referências, escreveu algo que achei interessante transcrever : “A prescrição combinada seria semelhante à tentativa de se criar uma harmonia ligando-se ao mesmo tempo seis rádios diferentes em estações diversas, na esperança de criar uma sinfonia. Esta práctica só pode criar um caos completo, e, na verdade, os casos mais lamentáveis que ocorrem na práctica homeopática são os de pacientes que se submeteram durante anos a esse tratamento caótico. O mecanismo de defesa desses pacientes está tão perturbado que frequentemente é de todo impossivel restaurar a sua saúde mesmo ao nível anterior a essa prescrição, quanto mais motivar uma cura. Para o homeopata conscencioso e instruído, a práctica de dar vários medicamentos ao doente só pode ser deplorada...” **
Julgo que estas ideias são simples e do senso comum, por isso dou comigo a pensar o que se passa com a Homeopatia hoje. Será que o pensamento adquirido através da medicina convencional está a tomar conta da nossa Homeopatia? Se assim for, têm em mim o mais feroz opositor...

** In Homeopatia : Ciência e Cura – Professor George Vithoulkas